sábado, 20 de maio de 2017

CRIMES QUE ABALARAM CORUMBÁ - William e Bob os Jesse James do Pantanal!

CRIMES QUE ABALARAM CORUMBÁ - William e Bob os Jesse James do Pantanal!

Fonte: Carlos Corrêa da Costa em 14 de Maio de 2017

Bandidos ou mocinhos? Amados e odiados eles tiveram um trágico fim e marcaram época na pacata Corumbá!

Os irmãos Severino Rodrigues "Bob" e William Rodrigues moravam no bairro Dom Bosco e eram filhos do policial Brito, o pai dos rapazes tinha fama de durão e carrasco com os bandidos da região. A mãe dos rapazes havia falecido quando os dois ainda eram crianças e ambos foram criados pela avó, que passados alguns anos foi acometida por um derrame, que a deixou por longos anos prostrada em uma cama.
Os rapazes eram do tipo que não levava desaforos para casa e com o tempo eles foram levando todas as culpas que a cidade podia dar a eles, se acontecia um roubo eram eles os culpados, se havia briga eram eles que a iniciavam, com tamanha perseguição, ambos foram se revoltando com a sociedade e a Polícia.

De acordo com Sueli Rodrigues irmã dos jovens, entre ambos o mais bem apanhado era William, na época ele servia o Exército e era muito zeloso com a apresentação de sua farda, era ele quem passava, ele que engomava. Boêmio da vida noturna William era frequentador assíduo do afamado Bordel da Maria Mulata. Uma noite em meio à bebedeira na "Casa de Mulher Solteira" William gritou: "Hoje vamos acabar com tudo isso aqui!", e começou a dar tiros nas lâmpadas, quebrando várias lâmpadas, quando a polícia chegou para prendê-lo, ele saiu correndo e fugiu e foi nesse momento que William desertou do Exército. 
Sueli Rodrigues irmã de William e Bob.
A polícia sempre estava em seu encalço e tudo o que acontecia os irmãos estavam no meio, constantemente era comum ver os jovens sendo presos e logo soltos. Na época diziam que os irmãos Bob e William eram protegidos por inúmeras famílias, inclusive tradicionais, que abriam a porta de suas casas para que eles se escondessem e escapassem do cerco policial.
A prisão e morte de William
Um Circo estava na cidade e as apresentações ocorriam no local onde hoje está a Liga Árabe de Corumbá. O foragido William queria assistir ao espetáculo e para não ser reconhecido pelas autoridades, foi vestido de mulher, mas um carcereiro o reconheceu e acionou a Polícia, que logo lhe deu voz de prisão, ocorrendo troca de tiros, quando ele atingiu o carcereiro, que por consequência do ferimento ficou paralítico. Esse dia William fugiu e refugiou-se na fazenda do Sr. Hugo Pereira, o Hugo da Pousada do Cachimbo. Com o tempo a Polícia ficou sabendo do paradeiro do fugitivo e pressionou o fazendeiro Hugo do Cachimbo para que entregasse o rapaz, que ato contínuo foi preso.

No dia 23 de janeiro de 1970, William seria julgado pelo crime de tentativa de homicídio, e no dia do julgamento um dos advogados mais tarimbado e renomado de todo o Estado de Mato Grosso unificado, Dr. Nelson Trad, veio para fazer a defesa do réu em Corumbá. Quem contratou o advogado foi um amor secreto que William havia conhecido na fazenda do Sr. Hugo, hoje a Pousada do Cachimbo situada na região da Prefeitura de Corumbá, mas até hoje ninguém sabe quem é esta mulher.

Mas nem o melhor advogado do Estado conseguiu livrar da cadeia o réu que já tinha várias passagens pela Polícia, além do crime de deserção das Forças Armadas e outros.  Enquanto estava na cadeia seu advogado já havia impetrado vários recursos para soltura do rapaz e todos já sabiam até mesmo a Polícia que William seria solto, de acordo com a irmã, "Ele era muito querido na cidade, quando estava na cadeia pedia para que um carcereiro comprasse roupa para ele no comércio local, quando o carcereiro informava para o comerciante para quem era a roupa, eles davam de graça".

No dia 26 de janeiro do ano de 1970 William morre na cadeia aos 19 anos com sete tiros sendo um no peito. De acordo com relatos, os policias e carcereiros forjaram uma tentativa de fuga para William e quando este se aproximou do muro foi fuzilado, metralhado pelas costas.

O enterro comoveu a cidade, amigos e familiares levaram o caixão até a porta da cadeia e tentaram entrar à força com o caixão com o corpo de William e todos gritavam aos policiais: "Vocês mataram uma criança!", mas isso não foi pouco para o dia da última despedida do jovem que fazia sucesso com as mulheres: "Meu irmão parecia o Elvis Presley", comenta Sueli Rodrigues e, durante o sepultamento, não faltaram às desconsoladas namoradas que entraram em vias de fato pelo título de ser a única namorada de William. "Elas brigaram de puxar cabelo, rolaram no chão e caíram na cova em prantos!".
Morte e prisão de Bob
Bob era casado e morava atrás do morro, quando Bob soube da notícia jurou vingança pela morte de seu irmão William. Um belo dia Bob conversando com sua irmã disse: "Hoje eu vou vingar a morte de meu irmão, está vendo estas velas! Estou indo no cemitério agora e daqui para frente ou vou morrer ou eu vou matar alguém", esse dia Bob foi ao Cemitério Santa Cruz acender uma vela na sepultura do seu mano Wiliam.

Bob já tinha em mente sua vítima: o policial Ângelo antigo desafeto deste e quem mais o judiava quando era preso pela Polícia e por um longo período Bob se envolveu em troca de tiros e perseguições com a Polícia, até ser preso no ano de 1972 e levado para a mesma cadeia em que seu irmão havia sido morto.
Preso após discussão e confusão no Bordel da Lúcia, Bob foi levado para a cadeia pública e no cárcere Bob se converte em evangélico e passava seus dias lendo a Bíblia, até que um dia o som do rádio estava muito alto e Bob pediu para o companheiro de cela, um tal de Renatão, que diminuísse o volume e ao não ser atendido, o próprio Bob baixou o volume do rádio e o dono do aparelho não gostou e deu início à troca de insultos e agressões físicas e Bob como era mais forte, havia derrubado seu oponente. Apartados, "fizeram as pazes" e foram dormir, quando Renatão levantou, pegou um pequeno botijão de gás e acertou a cabeça de BOB com um golpe fatal, a morte foi inevitável. E assim, os dois irmãos William e Bob morreram na mesma cadeia e, até hoje são lembrados. A Cadeia Pública de Corumbá ficava no local onde hoje está à Casa do Artesão na Rua Dom Aquino, em frente à Escola JGP, no centro da Cidade Branca.
Bandidos ou mocinhos?
Eles eram queridos por todos, porém, a acusação de um roubo mudou o rumo de suas vidas, prisões, torturas, troca de tiros com a Polícia. Diziam que o corpo de William foi fechado no terreiro mais famoso da cidade e andava vestido de mulher para driblar o cerco policial. A cela n° 7 da cadeia pública nunca foi tão visitada: "Eram filas de mulheres querendo visitar meu primo", reforço policial veio de Cuiabá, a capital de Mato Grosso uno, depois de decretada a prisão de William.

Várias estórias e historias cercam a vida dos jovens Bob e William passando de mito para figura folclórica popular, jovens e com toda uma vida por diante eles pagaram um preço muito alto pelos seus pequenos delitos, em meio à ditadura e sofreram torturas na cadeia que despertou o ódio contra a Polícia.
Primeira prisão de William
Com uma caixa em mãos, Bob corria atravessando o Campinho do Brasil, localizado no bairro Dom Bosco, aonde jogavam futebol e gritou: pega William que os homens vêm aí, e naquele momento Bob deu continuidade à fuga da polícia que vinha em seu encalço, enquanto William com a caixa que havia recebido foge em direção à sua casa, porém é interceptado pela polícia e preso. Na cadeia sofre vários tipos de torturas que marcaram sua vida para sempre.
Severino Morais de Brito
O pai de William e Bob era policial. Naquele tempo era conhecido como Guarda Civil, e uma noite no Clube Flor de Corumbá, na Rua Frei Mariano com Delamare, época na qual o efetivo da polícia era pequeno e quem patrulhava a cidade era o Exército e a Marinha, em meio a um desentendimento com a patrulha da Marinha, ele baleou um Fuzileiro Naval e matou outro.
O Policial Civil Severino fugiu e foi preso no Paraná, sendo trazido para Corumbá, a fim de responder pelo crime, ficando preso na Marinha e logo que foi julgado em Júri Popular, foi transferido para o presídio das Palmeiras localizado em Cuiabá, onde funciona hoje como sede da Universidade Estadual de MT, na Serra de São Vicente. Nunca mais se teve notícias de Sr. Severino.
A vingança de Ângelo
De acordo com informações, Ângelo tinha desavenças com o Sr. Severino e quando Severino foi preso Ângelo entrou para a Guarda Civil, aproveitando que o pai dos rapazes não estava na cidade ele deu início a sua vingança, tendo como foco os filhos daquele que era seu desafeto.
Segura o Tombo 
Na Rua Ladário, entre as ruas Joaquim Murtinho e Porto Carreiro, havia um aglomerado de barzinhos e o pedaço de rua era conhecido com "Segura o Tombo", sendo que o local era frequentado por changueiros da estação da Noroeste, por militares, boêmios e meretrizes.

Ângelo já era da Guarda Civil, quando teve um desentendimento com um soldado do Exército e certo dia vários soldados se juntaram e deram uma surra em Ângelo, logo todos correram para o quartel do Exército, e lá se esconderam e como o Guarda Civil não pode entrar lá, ficou um conflito sem solução.
Época da Ditadura Militar e a criminalidade em Corumbá
A criminalidade estava crescendo muito em Corumbá e certo dia um General do Exército lotado aqui na cidade, mandou seu efetivo cercar com viaturas e soldados armados o quadrilátero das ruas Antonio Maria com a Frei Mariano e Porto Carreiro com a Cabral, ninguém saia do quadrilátero sem ser revistado, eram muitos peões de fazenda armados e paraguaios sem documento. Em meio à ditadura quem fazia o trabalho de polícia e patrulha na cidade era a Marinha e o Exército e por vezes ficava difícil decidir quem mandava mais que o outro na cidade.
Uma das fugas de William 
"Meu primo William era um Gentleman", certo dia conversando na casa de tia Luiza de repente ele disse: "Espera um pouco, vem gente!, tia me dá minha arma", em todo lugar que William chegava ele entregava a arma para o dono da casa, quando recebeu a arma das mãos de sua tia e saiu correndo, na parte de fora da casa a patrulha já havia formado o cerco para prendê-lo. William saiu correndo em direção do descampado que o punha ao alcance de todas as alças de mira das pistolas e mosquetas apontadas para ele. "Meu primo segurou o cordão dele que tinha como pingente uma trouxinha pequena de cor vermelha (Brevê). Ele a beijou e fez uma reza e logo correu no descampado, ele acertou um tiro em um militar e logo pulou um muro de quase três metros".

Corpo fechado
William era umbandista e frequentava o terreiro da Mãe Carlinda. "Ela era o anjo da guarda dele", o terreiro é famoso até hoje, lá William teve o corpo fechado, o que o tornou um homem místico, é comum o ouvir dizer que quando a polícia passava, ele ficava de costas e fazia sua reza que o deixava invisível diante da patrulha ou passava despercebido diante dos olhos da ronda. William passou no bar bebeu um trago e logo disse que iria ao terreiro, em menos de meia hora enquanto recebia o passe, a polícia cercou o local, mais uma vez William fugiu, tempos depois ficou sabendo através de um amigo, que quem entregou seu paradeiro foi o dono do bar. William retornou e matou o dono do bar.
A mulher na porta de casa
Eram duas horas da manhã, nós morávamos na Rua Dom Aquino e uma mulher alta bateu na porta, mamãe foi ver e o charreteiro disse que a mulher queria falar com Sr. Napô, era o nome de papai, mamãe ficou mortificada com a visita de uma mulher inesperada e o que era pior de madrugada! O Sr. Napô se levantou e foi ver quem era, ao abrir a porta à mulher alta e loira entrou com tudo e logo foi reconhecida, era William disfarçado dizendo, "Eu quero comer tio, tô com fome", todos riram no momento, antes de fechar a porta disseram para o charreteiro voltar às cinco da manhã para buscar a mulher, naquele tempo não haviam muitos táxis e a maioria destes serviços eram feitos por charreteiros. O Sr. Napô passou a noite toda conversando com seu sobrinho William e às cinco horas da manhã ele vestiu o disfarce, se maquiou e o charreteiro já estava na porta esperando.
A cela número 7 da cadeia
Primeira cela à esquerda de quem entra na antiga cadeia, atual Casa do Artesão, era a mais visitada, eram filas e mais filas de mulheres que vinham visitar o perigoso, místico e simpático rapaz. No dia de sua morte eram mais de cinquenta charretes estacionadas em frente da cadeia, todas elas traziam mulheres de diferentes bordeis da cidade, que vinham dar o último adeus ao seu melhor cliente e amante.
Sr. Hugo Pereira de Souza "Hugo do Cachimbo" ajudou William! 
O Sr. Hugo do Cachimbo foi um dos grandes benfeitores da Cidade Dom Bosco, fundada pelo Padre Ernesto Sassida de saudosa memória e era uma figura carismática na cidade, de acordo com a viúva do Sr. Hugo, dona Jane, "Ele levou o William para trabalhar na fazenda, um dos tios do rapaz pediu para meu esposo tirá-lo da cidade, afastando dos problemas, Hugo levou ele de avião para a Fazenda São Francisco e depois também o levou de avião para Campo Grande, deixando William lá. Em Campo Grande ele se envolveu em problemas e retornou de trem, escoltado pela Polícia para cumprir pena em Corumbá. Hugo Pereira era tão popular, que foi candidato a prefeito em nossa cidade em 1965.
Sr. Hugo Pereira de Souza
A prisão e morte de William
Um dos carcereiros viu uma das barras da cela 7 cerrada e combinou com William o valor para deixá-lo fugir, feito o acerto de valores, o carcereiro recebeu o dinheiro entregou para os outros carcereiros a notícia da fuga de William, chegada à noite todos ficaram aguardando a fuga de William, vendo que ele não saia Ângelo foi até a cela e desferiu um golpe de facão nas costas de William este correu para o pátio da cadeia e quando se aproximou do muro foi fuzilado com sete tiros, desferidos pelos policiais Corrêa, Brandão e Campos, sendo um tiro de mosquetão no peito.

O Dr. Fernando Moutinho, um médico da cidade que resolvia todo problema de saúde de gente e de bicho, e o Juiz da Comarca foram até a cadeia para constatar se William não foi morto à traição ou de alguma forma injusta, não se tem registros da ata ou súmula que ateste o fato constatado pela visita destas duas figuras ilustres.
Prisão de Bob
Estavam todos reunidos na frente da Casa da Lúcia, um bordel localizado na Rua Cabral entre as ruas Ladário e Tiradentes, era o dia 12 de julho de 1970 e Erlon havia chegado com uma pistola Luger 9 mm e um dos rapazes, mais conhecido como Marujo pediu a pistola emprestada e deu um tiro para o ar, Bob não estava no meio da bagunça e sim dentro da casa da Lúcia, a polícia chegou atirando e acertou um tiro na nuca do Erlon e na troca de tiros dois policias foram baleados. O delegado conhecido com Charutinho decretou a prisão de todos os envolvidos que fugiram do local, entre eles Bob, que mesmo não tendo envolvimento direto com os fatos, também foi apontado como um dos participantes.
Por Carlos Corrêa da Costa

  1. (Matéria extraída das edições nº2697 e 2698 dos dias 27/09 e 04/10/2014 )

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