por Rafael Martineli*
Tema:
Independência
do Brasil: crise colonial e participação popular.
Objetivos: Entender o processo que levou o Brasil a
se tornar independente. Esclarecer o que foi a Crise do Sistema
Colonial e como se deu a influência dos homens livres pobres e “de cor” nesse
processo de independência.
Justificativa: Necessidade de conhecer melhor o que foi
e como se deu a Independência de nosso país; levando em consideração a falsa
ideia de que a população pobre da colônia não tenha participado desse fato
histórico e que tenha ocorrido, somente, graças à proclamação de Dom Pedro às
margens do Ipiranga.
Metodologia:
·
Uso da lousa e slides com fotos para
melhor expor a aula; utilizando assim: computador e Datashow para apresentar
esses slides.
·
10 min. Introdução: Uma breve explicação
sobre a Independência do Brasil, buscando esclarecer a proposta da aula.
·
25 min. Desenvolvimento: Discorrer o
assunto, trazendo importantes tópicos a ser discutido para melhor compreender o
processo de Independência.
- O que foi a Crise do Sistema
Colonial?
- Onde estava o povo com “p”
minúsculo?
- 1808: Embrião da Independência.
- Liberdade, Igualdade e
Fraternidade
·
10 min. Conclusão: Fechar a aula
recorrendo a uma reflexão sobre os ideais da Independência, e se realmente
houve liberdade, igualdade e fraternidade entre os brasileiros e se realmente
existe nos dias de hoje.
INTRODUÇÃO:
A
Independência do Brasil, proclamada à margem do rio Ipiranga, no dia 7 de
setembro de 1822, e que foi reconhecida por Portugal apenas no ano de 1825, se
deu em um período conflitante onde a colônia (Brasil) não se via como tal e sua
autonomia crescia a ponto de os brasileiros se verem no mesmo patamar da
metrópole. Havia uma luta não para desvincular o Brasil de Portugal, mas sim
para tornar as terras brasileiras uma extensão das terras lusitanas, ou seja,
tornar o Brasil não mais como colônia, explorada, subjugada, mas como unida ao
império luso-brasileiro. Portugueses e brasileiros agora irmãos, filhos da
mesma mãe. Porém é necessário esclarecer como e por onde a ex-colônia caminhou
para chegar a Independência, da mesma forma, entender como os portugueses
encaram essa situação.
DESENVOLVIMENTO:
O
que foi a Crise do Sistema Colonial?
Devido
o curto tempo que temos para desenvolver a aula (25 min.), não poderemos
aprofundar no assunto, mas faz-se necessário uma explicação mínima do que foi
essa tal crise. O Antigo Regime Colonial é um modelo interpretativo abordado
pelo historiador Fernando Novais, em sua obra “Portugal e Brasil na Crise do
Antigo Regime Colonial” ele explica como essa crise influencio a antiga colônia
se tornar independente. A palavra “Antigo” é utilizada para diferenciar esse
sistema colonial do neocolonialismo que surge no século XIX. Esse Sistema
Colonial se define pro três características básicas: a dominação política, no
caso de Portugal sobre as novas terras; a exploração comercial, o monopólio dos
portugueses sobre a terra e os produtos dela tirados – envio de riquezas para
metrópole – e por fim, a utilização da mão-de-obra compulsória, no caso o
escravismo utilizando-se dos africanos capturados em suas terras natais e
índios habitantes da terra “encontrada”. Para Novais a independência é fruto
gerado por essa tal crise que se desenvolve através de contradições internas,
dentro de Sistema Colonial. A vinda de Dom João e da família real para o Brasil
em 1808 pode ser considerado o embrião para tal crise.
Contudo,
segundo o texto abordado para aula, de Gladys Ribeiro, pode-se dizer que o
Brasil foge dessa ideia de crise no sistema colonial. Ela cita alguns autores
que questionaram esse modelo interpretativo de Novais, entre eles João Luiz
Ribeiro Fragoso e o lusitano, Valentim Alexandre. Fragoso questiona: “a chamada
crise do Sistema Colonial na América portuguesa. Demonstrou que os negociantes
de grosso trato, sediados na sua maioria na cidade do Rio de Janeiro,
comandavam as transações comerciais no império luso-brasileiro desde pelo menos
finais do século XVIII. [...] Para o período de 1790 a 1830, com base em sólida
pesquisa, Fragoso comprovou que os negócios tocados desde o Brasil iam bem,
obrigado. Estavam em tão boa saúde quanto a economia colonial, ao contrário das
interpretações da crise...”. Da mesma forma Valentim “demonstrou que ao menos
até a invasão napoleônica a economia portuguesa era próspera”.
Onde
estava o povo com “p” minúsculo?
Aqui
é necessários explicar a ideia de povo com “p” minúsculo e Povo com “P”
maiúsculo. Levando em consideração as classes sociais já existentes nesse
período dos finais do século XVIII e início do XIX, o Brasil era formado pela
Elite portuguesa e os herdeiros, mesmo que nascidos no Brasil, que formavam –
Gladys Ribeiro é quem nomeia – a classe dos chamados “Povo” (com “P” maiúsculo)
que tinha direitos políticos, que participavam das decisões aqui tomadas,
normalmente eram grandes latifundiários, ou comerciantes, que atuavam no
tráfico de escravos. Já o “povo” (com “p” minúsculo) pode-se considerar a
classe pobre, mesmos portugueses que vieram para o Brasil, na busca de uma
melhor condição e que de certa forma acabaram por não conseguirem uma melhoria
de vida, tendo que viver da mesma forma, muitas vezes, como ex-escravos; daí
pode-se dizer nos homens livres pobres e os “de cor”, convivendo no mesmo
ambiente e nas mesmas condições, lutando pelas mesmas causas. No caso da
Independência, esse povo com “p” minúsculo esteve presente, lutou para que se conquistasse
uma autonomia, que se traduzia em práticas sociais e políticas diferenciadas,
uma melhora de suas condições de vida, inclusive escravos.
Gladys
afirma que:
“Era
constante o medo da anarquia e das rebeliões das ruas. Em xeque, de forma mais
imediata, a parcela negra da população. Os políticos ‘brasileiros’ invocavam em
sua defesa os discursos de barbárie dos africanos e dos negros, em geral, além
dos episódios de São Domingos em finais do século XVIII e nos primeiros anos do
século XIX. Os deputados do lado português do Atlântico também utilizaram estes
como constantes ameaças, que faziam eco na população branca ‘livre’ e
‘bem-nascida’. Na tribuna brandiam deixar o Brasil entregue à sua própria
sorte, àquela da sanha dos negros”.
[...]
“Escravos e libertos também reivindicaram a liberdade como autonomia jurídica e
de ações”.
[...]
“Se a historiografia identificou líderes e ‘partidos’ que fizeram seus nomes
pelas atitudes tomadas naqueles dias, estes não estavam sozinhos. A população
pobre e desvalida estava sempre presente”.
Então
fica claro que a Independência não foi consolidada apenas pelas lutas da Elite,
tão pouco pela atitude de Dom Pedro, mas por uma série de fatores que
contribuíram para que acontecesse.
1808:
Embrião da Independência.
A
vinda de D. João VI e a Família Real para o Brasil, no ano de 1808 foi um
início para que a antiga colônia pudesse adquirir certa autonomia.
Napoleão
ameaça invadir Portugal, pois tinha o objetivo de dominar a Europa, tendo, em
certa parte, conquistado considerável quantidade de territórios, como a Prússia
e outras regiões. Como tinha uma aliança com os espanhóis ele pretendia, e
assim fez, invadir o território lusitano por solo, lembrando que conquistando
os portugueses estaria próximo a conquistar os britânicos, principais rivais da
França napoleônica. Dom João então recorre à ida para o outro lado do
Atlântico, não como fuga, mas como estratégia política, considerando que esta
cogitação – a vinda para o Brasil – já havia sido feita por Pombal. Esta
atitude do reino lusitano pretendia manter o trono e fortalecer as relações
entre Brasil e Portugal.
A
Inglaterra, forte aliada de Portugal, faz a escolta marítima, sendo ela a
rainha dos mares. Mas, como nada é de graça, esta escolta custaria muito aos
portugueses; a abertura dos portos, podendo o Brasil – até então proibido de
comerciar com outras nações, além de Portugal – negociar com os britânicos,
recebendo produtos com taxas de importação mais barata. Esse fato,
consequentemente, foi o fim do Pacto Colonial, e o Brasil colônia começou a dar
os primeiros passos para alcançar sua autonomia.
Além
disso, com a vinda da realeza lusitana, ocorre no Brasil uma modernização,
considerando que o rei não viveria sem os luxos de Lisboa. Trás consigo uma
prensa, circulando assim, após 1808 os primeiros jornais, funda o Banco do
Brasil, há também a criação de escolas, espaços de leituras, livrarias; Dom
João procurou criar no Brasil as instituições políticas, econômicas e
burocráticas que existiam em Portugal. Em 1815, Dom João eleva o Brasil à Reino
Unido, pois não pretendia mais sair do país. Além de tudo, houve também uma
maior circulação de europeus no novo mundo, tornando os costumes brasileiro
europeizado.
Liberdade,
Igualdade e Fraternidade
Não
é mera coincidência o fato de o “slogan” da Revolução Francesa fazer parte do
pensamento dos militantes da Independência brasileira. Como assim? Os ideais
filosóficos da burguesia francesa que influenciou na tão famosa revolução,
alcançaram países da América Latina que viviam esse período de conflito entre
colônia e metrópole. Muito dos filhos da Elite brasileira, tiveram contato com
tais ideias iluministas através de viagens para a Europa, muitas delas em prol
de estudos, e considerando que boa parte da literatura revolucionária tivera
chegado ao Brasil; um fato importante, também, é a influência maçônica, que
assim como influenciou na revolução, também influenciou na Independência do
Brasil. Fica claro essa influência observando o hino nacional brasileiro,
escrito por Joaquim Osório Duque Estrada, nos trechos, por exemplo, em que diz:
“o sol da Liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse
instante; Se o penhor dessa Igualdade conseguimos conquistar com braços
fortes”.
Porém,
baseando-se no texto de Gladys Ribeiro, e com muito sentido, nota-se que a
ideia de Liberdade e Igualdade não é realmente como soa aos ouvidos. Liberdade
pra quem e, igualar-se a quem? Recorrendo ao texto, Gladys diz:
“A
liberdade era o grande tema de discussão no espaço público, no início do século
XIX, sobretudo com medidas tomadas por D. João VI a partir do estabelecimento
da Corte no Brasil. [...] a classe dominante enraizada no Brasil começou a
entender a liberdade como fator de igualdade total com Portugal. [...] Os
portugueses do Brasil e os de Portugal, irmãos de uma mesma fraternidade,
complementar-se-iam em riqueza e grandeza. Esta era a igualdade na
fraternidade, respeitando a propriedade e tendo como pressuposto a liberdade
entendida como autonomia. [...] direitos iguais entre irmãos da mesma família –
a luso-brasileira”.
Podemos
notar que esse ideal estava voltado não para o Brasil, num todo, mas para a
elite ou classe dominante. A igualdade entre irmãos seria apenas para os
“homens-bons” (católicos, brancos e ricos) os grandes latifundiários ou
comerciantes, sobretudo de escravos. A população negra escrava e mesmo os
livres pobres (incluindo portugueses) continuariam no mesmo estado, sem
privilégios, sem participar das decisões. A escravidão ainda seria de grande
utilidade, durando mais de 60 anos após a Independência.
Portugal,
porém, não estava com planos de reconhecer o Brasil como um país independente,
muito menos os brasileiros como irmãos da mesma pátria, havia planos para
reconquistar e recolonizar o Brasil, que foi impedida pela Inglaterra, não por
interesses ideológicos, mas por interesses econômicos. Tanto é que o Tratado de
Reconhecimento, assinado somente em 1825, se deu com esforço e artimanhas dos
ingleses.
CONCLUSÃO:
O
Brasil se torna, de fato, independente em 1822, graças à Inglaterra, em
processo de industrialização, que não via lucro num Brasil colonizado por
Portugal. Podemos notar que esse processo não se deu, nem pelos movimentos
nativistas ou nacionalistas (lembrando que, segundo Eric Hobsbawm, a ideia de
nacionalismo surge no final do século XIX), nem ocorreu por consequência da
Crise do Sistema Colonial, pois a economia na colônia portuguesa ia muito bem,
obrigado. A Independência acontece pelos interesses da elite, que uniram forças
aos interesses da Inglaterra e uma serie de fatores que influenciaram no
crescimento de autonomia da ex-colônia, inclusive as medidas tomadas por D.
João VI, assim como o próprio desejo de liberdade da população.
Porém,
ao refletir sobre liberdade e igualdade, mesmo após o Brasil independente,
veremos que não é bem assim que as coisas funcionam; o país do futebol, do
carnaval e da alegria ainda é marcado pela forte desigualdade social, ainda é
influenciado pela elite, que, aliás ainda tomam decisões, mesmo que “debaixo
dos panos”. As grandes corporações são fortes aliados do governo, assim como
existe trabalho escravo, mesmo que com cara de livre. Houve um progresso desde
1822? De fato houve, mas dizer que liberdade e igualdade foram ou são objetivos
do Brasil seria uma falsa afirmação; e fraternidade? Melhor deixar para outro
assunto.
Bibliografia:
RIBEIRO, Gladys Sabrina. O desejo da liberdade e
a participação de homens livres pobres e “de cor” na Independência do Brasil.
* É aluno do 4º semestre do curso de licenciatura em História do centro Universitário anhanguera de São Paulo
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