sábado, 4 de junho de 2011

Possuir ou amar...
Marina era uma menina muito meiga que morava em uma linda fazenda com o seu pai, Paulo. Desde que sua mãe morreu Marina era a razão de viver de Paulo. Marina tinha apenas dez anos de idade e todas as tardes ia passear com o seu pai campos floridos da fazenda e depois subiam um monte de onde se tinha a vista de toda a fazenda. Ela deitava a cabeça no colo de seu pai, que a acariciava, e ficavam ali algum tempo admirando o pôr-do-Sol. Ela se sentia a pessoa mais feliz do mundo. Imaginava como era bom sentir todo aquele carinho, como era bom morar naquele lugar tão bonito e de ter um pai tão carinhoso e amigo. Em meio a esses pensamentos sempre dizia a seu pai:
- Papai, eu nunca te deixarei! Sempre estarei aqui do seu lado, porque sem você a minha vida não tem sentido e não entenderei o pôr-do-Sol, nem as flores do campo e nem tudo que há de bom nesta fazenda.
Seu pai então fechava os olhos e lembrava-se de que já fizera promessas semelhantes. Que um dia já teve a mesma sensação e pensava que era dono de seu destino e nunca ia permitir que nada muda-se. Entretanto, viu todos as suas esperanças se esvaírem em um corpo enfermo agonizando, até que um último suspiro se ouviu. Era a trágica despedida da pessoa que julgou que possuía e não deixaria chamais que ela fosse embora. Levou muito tempo para que ele se conformasse e calasse a revolta do seu coração. Foi quando, então, descobriu que ainda tinha Marina, e assim reencontrou-se com a vida e aprendeu a ama-la cada vez mais.
- Eu sei disso minha filha, mas Deus sempre nos dá instrumentos para entendermos o sentido da vida e ver sua beleza. Por isso lembre-se de que você não precisa de mim para entender a vida. Tudo o que você precisa é do amor! Com ele tudo se explica por si só.
Dez anos depois, Marina conheceu o homem de sua vida, e logo iria casar-se com ele. Mas ele morava em uma cidade, muito distante da fazenda, e assim que se casassem ele teria que voltar para a sua cidade com ela. Marina sofria muito porque tinha que tomar uma decisão difícil: ficar ao lado do homem da sua vida, ou ficar com o seu pai que tanto amava e prometera que nunca o deixaria. Naquela tarde ela foi, como de costume, passear com o seu pai pelos campos da fazenda e depois subiram o monte que dava vista para a fazenda, mas desta vez foi diferente, durante todo o passeio pelo campo não conversaram. Quando chegaram ao monte para apreciarem o pôr-do-sol, foi seu pai quem quebrou o silêncio:
- Filhinha querida, não se preocupe comigo. A vida me ensinou que você nunca será minha, e por isso eu a terei para sempre.
Marina olhou para o seu pai confusa e ele prossegui:
- Você foi a esperança dos meus dias de solidão, a angústia dos meus momentos de dúvida e a certeza dos meus instantes de fé. Se tentarmos possuir uma flor, veremos sua beleza murchar. Mas se apenas a olharmos no campo estaremos sempre com ela. Porque ela combina com o pôr-do-Sol, com o cheiro de terra molhada e com o céu azul. Não podemos possuir o Sol, como não podemos possuir a chuva, ou as estrelas que brilham no céu. Não podemos possuir o que a natureza tem de mais maravilhoso. Mas podemos amar e conhecer, porque não somos donos de nós mesmos. Quando você se for, meu coração de homem chorará por muito tempo, mas meu coração de pai regozijar-se-á de alegria por saber que você seguiu o seu caminho e será feliz.
Marina, não contendo as lágrimas abraçou e beijou seu pai. E agradecendo a Deus por ter um sábio como pai, foi embora e seguiu o seu destino.
(by: Gilson Barbosa)
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