Notícias do ProJovem
Diversidade sexual é debatida na escola
Dentro do ProJovem São Paulo, o primeiro caso de diversidade sexual que a Coordenação Municipal se deparou aconteceu no início do curso, quando foi recebido o David, com cabelos compridos, de saia e que se apresentava como Katlen.
Os professores insistiam em chamá-la de
David. Ana Paula Rossini, educadora de Ação Comunitária, resolveu
intervir: “Vamos escutar o que ela tem a dizer”. Algumas discussões e
dificuldades adiante, o nome Katlen foi oficializado na lista de
presença, ao lado do original David. “Foi uma conquista”, avalia Ana
Paula.
Depois disso, Katlen já foi logo usando o banheiro
feminino, para espanto de toda comunidade escolar. A inspetora solicitou
a ela que usasse um terceiro banheiro, de forma mais neutra, nem
feminino, nem masculino. De novo a intervenção: “Mas ela se sentiria
bem? O que prefere? Quais são seus motivos?”, insistia Ana Paula. Katlen
nunca teve problemas em discutir suas ações. “Banheiro masculino para
mim é um problema. Me sinto bem no banheiro feminino. Se as meninas não
se importam, gostaria de usá-lo. Lá não sou maltratada e estou entre
iguais.”
Depois de muitas discussões, Katlen freqüenta oficialmente o banheiro feminino.
Seminário
A questão do preconceito, da discriminação, mesmo que
velada, veio à tona, trazendo uma nova tônica nas discussões da equipe
de educadores do ProJovem e da Coordenação da Escola. No começo do mês
de julho deste ano, Paulo Vieira, Coordenador Pedagógico da Estação
Juventude São Miguel, em São Miguel Paulista, tomou a iniciativa de
promover o seminário “Diversidade Sexual no Espaço Escolar”, voltado
para os educadores dessa Estação Juventude. O coordenador convidou três
especialistas para dar palestras e tirar as dúvidas sobre o tema.
Em princípio, Paulo Vieira detectou uma grande
entrada de transexuais e homossexuais no grupo, tendo a escola e a
equipe de educadores muitas dificuldades para lidar com a questão. “Essa
dificuldade está relacionada, entre outros fatores, à falta de formação
especializada e à complexidade do tema”, afirma ele.
O caso de sucesso da Katlen é uma exceção. “Há um
certo tipo de padrão de mulher e homem que a escola não consegue
romper”, apontou Marília Pinto de Carvalho, professora da Faculdade de
Educação USP, e uma das convidadas para falar no seminário. Para Edith
Modesto, fundadora do GPH – Grupo de Pais Homossexuais, a postura da
jovem aluna não é a regra entre os casos de diversidade sexual. “Desde
cedo, os homossexuais se percebem diferentes e aprendem que são
considerados inadequados”, explicou a professora em sua palestra. “As
pessoas, injustamente, os vêem como anormais. E eles têm de esconder a
homossexualidade dos colegas, do vizinho e de seus pais. Vivendo este
conflito, se fecham em si mesmos, têm poucos amigos e não têm
orientação”, complementou.
Por causa da postura de muitos alunos e equipe, a
questão do preconceito foi trabalhada em toda escola. “Tivemos um ganho
qualitativo muito grande com tudo isso. Não foi fácil, mas valeu a pena.
Hoje sinto que a escola está mais adaptada para lidar com uma questão
mundial”, conta a diretora Ana.
Noiva
A prova concreta de que o preconceito não está mais
latente naquela comunidade foi o convite, feito pelos próprios alunos,
para que Katlen auxiliasse nas atividades escolares em sua área de
conhecimento: um desfile para as mães e para ser a noiva da Festa
Junina.
Como muitos professores tinham dúvidas em relação ao
tema, o seminário trouxe soluções concretas para lidar com a
diversidade e valorizou o que há de melhor no convívio escolar: as
trocas. “Este encontro foi muito bom”, avalia Paulo, o Coordenador
Pedagógico da Estação. “Os professores solucionaram dúvidas do senso
comum e outras conceituais. Em relação à ação pedagógica de todos, ficou
claro que ainda há muito trabalho a ser feito!”
* Matéria adaptada de texto enviado pela
professora Soraia Chung Saura – filósofa, doutoranda em Antropologia do
Imaginário pela Universidade de São Paulo e Coordenadora de Ação Social
do ProJovem, em São Paulo.
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