quarta-feira, 15 de maio de 2013

Notícias do ProJovem/ Diversidade sexual é debatida na escola

Notícias do ProJovem

Diversidade sexual é debatida na escola

   


Dentro do ProJovem São Paulo, o primeiro caso de diversidade sexual que a Coordenação Municipal se deparou aconteceu no início do curso, quando foi recebido o David, com cabelos compridos, de saia e que se apresentava como Katlen.

Os professores insistiam em chamá-la de David. Ana Paula Rossini, educadora de Ação Comunitária, resolveu intervir: “Vamos escutar o que ela tem a dizer”. Algumas discussões e dificuldades adiante, o nome Katlen foi oficializado na lista de presença, ao lado do original David. “Foi uma conquista”, avalia Ana Paula.
Depois disso, Katlen já foi logo usando o banheiro feminino, para espanto de toda comunidade escolar. A inspetora solicitou a ela que usasse um terceiro banheiro, de forma mais neutra, nem feminino, nem masculino. De novo a intervenção: “Mas ela se sentiria bem? O que prefere? Quais são seus motivos?”, insistia Ana Paula. Katlen nunca teve problemas em discutir suas ações. “Banheiro masculino para mim é um problema. Me sinto bem no banheiro feminino. Se as meninas não se importam, gostaria de usá-lo. Lá não sou maltratada e estou entre iguais.”
Depois de muitas discussões, Katlen freqüenta oficialmente o banheiro feminino.  
Seminário
A questão do preconceito, da discriminação, mesmo que velada, veio à tona, trazendo uma nova tônica nas discussões da equipe de educadores do ProJovem e da Coordenação da Escola. No começo do mês de julho deste ano, Paulo Vieira, Coordenador Pedagógico da Estação Juventude São Miguel, em São Miguel Paulista, tomou a iniciativa de promover o seminário “Diversidade Sexual no Espaço Escolar”, voltado para os educadores dessa Estação Juventude. O coordenador convidou três especialistas para dar palestras e tirar as dúvidas sobre o tema.
 Em princípio, Paulo Vieira detectou uma grande entrada de transexuais e homossexuais no grupo, tendo a escola e a equipe de educadores muitas dificuldades para lidar com a questão. “Essa dificuldade está relacionada, entre outros fatores, à falta de formação especializada e à complexidade do tema”, afirma ele.
O caso de sucesso da Katlen é uma exceção. “Há um certo tipo de padrão de mulher e homem que a escola não consegue romper”, apontou Marília Pinto de Carvalho, professora da Faculdade de Educação USP, e uma das convidadas para falar no seminário. Para Edith Modesto, fundadora do GPH – Grupo de Pais Homossexuais, a postura da jovem aluna não é a regra entre os casos de diversidade sexual. “Desde cedo, os homossexuais se percebem diferentes e aprendem que são considerados inadequados”, explicou a professora em sua palestra. “As pessoas, injustamente, os vêem como anormais. E eles têm de esconder a homossexualidade dos colegas, do vizinho e de seus pais. Vivendo este conflito, se fecham em si mesmos, têm poucos amigos e não têm orientação”, complementou.
Por causa da postura de muitos alunos e equipe, a questão do preconceito foi trabalhada em toda escola. “Tivemos um ganho qualitativo muito grande com tudo isso. Não foi fácil, mas valeu a pena. Hoje sinto que a escola está mais adaptada para lidar com uma questão mundial”, conta a diretora Ana.  
Noiva
A prova concreta de que o preconceito não está mais latente naquela comunidade foi o convite, feito pelos próprios alunos, para que Katlen auxiliasse nas atividades escolares em sua área de conhecimento: um desfile para as mães e para ser a noiva da Festa Junina.
 Como muitos professores tinham dúvidas em relação ao tema, o seminário trouxe soluções concretas para lidar com a diversidade e valorizou o que há de melhor no convívio escolar: as trocas. “Este encontro foi muito bom”, avalia Paulo, o Coordenador Pedagógico da Estação. “Os professores solucionaram dúvidas do senso comum e outras conceituais. Em relação à ação pedagógica de todos, ficou claro que ainda há muito trabalho a ser feito!” 
 * Matéria adaptada de texto enviado pela professora Soraia Chung Saura – filósofa, doutoranda em Antropologia do Imaginário pela Universidade de São Paulo e Coordenadora de Ação Social do ProJovem, em São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário