domingo, 6 de setembro de 2015

Esqueci-me de ser melhor

Esqueci-me de ser melhor
Apenas sou
Uma vez me perguntaram algo de uma forma que até hoje eu não identificar se foi por admiração ou por ironia “tem alguma coisa que tu não sabes fazer?”. Queria não ser desconfiada e acreditar completamente na pureza dessa pergunta, vendo-a assim, um elogio. Seja como for, o fato é que não há nada que eu saiba fazer bem feito. Não há nada que eu possa bater no peito e dizer “quero ver fazer melhor que eu”. Nem se quer há nada que eu faça que faça alguém se lembrar de me chamar para fazer. Sou sempre ordinária. Lembro-me da pergunta, outra vez. Não havia entonação sagaz, embora não consiga entender de outra forma que não seja irônica. Eu me desdobro em mil e faço mil e uma coisas, é verdade. Contudo, uso a intuição, o carinho e a curiosidade como mérito, sempre fui assim. Sou amadora nata – do grego, mais vontade que perfeição.
Não sei se conseguirei ser um ponto fora do gráfico, como assim já se referiram a mim, tendo em vista que facilmente as pessoas se aproximam e se afastam de mim sem sentir falta – da mesma forma que se aproximam de um livro bom que leem não entendem muito coisa e largam de mão esquecendo-se ate de mencionar, em um café literário talvez, que já o leu. Não sou lembrada nem esquecida. Apenas sou. Não sou nem boa nem má. Apenas sou. Nem amada nem odiada. Apenas sou. O velho tanto faz. Já me disseram que uma memoria curta é o segredo da felicidade, mas não seria esse um modo egoísta de pensar? Eu não, eu gosto de me lembrar de tudo: gosto de guardar as coisas boas e ruins, gosto de ter datas especiais marcadas em meu calendário, gosto de guardar frases, risadas e lágrimas, gosto de guardar momentos, sonhos, planos, conversas e encontros, gosto de guardar alguns silêncios, alguns abraços, alguns beijos e alguns esquecimentos... Embora de todas as coisas que faço com mediocridade, me lembrar ainda é o que menos sei fazer.
É por isso, exatamente por isso que, mesmo sendo medíocre, escrevo. Escrevo por não haver espaço no HD interno. Escrevo porque as palavras tornaram-se minhas memórias. Provavelmente meus netos irão rir quando eu sentar na cadeira de balanço para lhes contar uma experiência minha e, ao invés de fazê-lo naturalmente, carregar minhas próprias anotações que lerei para eles como quem ler um livro. Pelo menos, não vou correr o risco de cometer equívocos ou ter que inventar estórias de ultima hora para preencher as lacunas da minha falha memoria. Pois, também não sei inventar. Escrevo apesar de medíocre, pois ainda assim, escrevo melhor do que falo. E mais do que isso, escrevo porque meus sentimentos só se tornam livres de mim quando escorrem no papel....
Sou instante... Passou.

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