segunda-feira, 21 de novembro de 2011

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Por Francisco Renaldo da Costa
Começo com uma recordação da infância. Tempos do ginásio, minha professora de matemática criava um clima de solenidade e declamava: “Na vida, meus lindos, podem tirar tudo de vocês, menos o conhecimento. Por isso, estudem”. Confesso que essas palavras ficaram gravadas, talvez nem tanto pela importância, na ocasião, mas pelas vezes que ouvi. O tempo passou, decidi seguir um campo de conhecimento diferente daquele de minha professora de matemática, fui pelas trilhas das humanidades.
“Quanto mais existe sapiência, mais existe paciência”, nos adverte o provérbio chinês. Conhecer exige planejamento, nada acontece ou se adquire de uma hora para outra, a não ser a contingência que sempre chega sem nos avisar. A história pede um mínimo de planejamento, para os que desejam sobreviver, já para os que almejam o sucesso, a ordem é planejar, planejar e planejar.
Para os gregos, o mundo em que nos situamos está em constante devir, podemos traduzir esse conceito por movimento, mudança ou transformação. Tudo flui, o cenário é de constante mutação. Observe abaixo:
Século XIX – Era da Industrialização
Século XX – Era do Gerenciamento
Século XXI – Era do Capital Humano / Era do Conhecimento / Era do Ser
Onde as mudanças são constantes, velocidades são crescentes.
Lembremos que desde a década de 1990 a sociedade ficou conhecida como a Era da Informação, situação vivida até os dias atuais e, a principal característica dessa nova era são as mudanças, que se tornam rápidas, imprevistas, turbulentas e inesperadas (CHIAVENATO, 2004). Isto fica claro quando me dou conta que celular, hoje em dia, serve para tudo, até mesmo para efetuar e receber ligações. E que até alguns anos atrás, para escrever um texto, utilizava minha velha amiga máquina de escrever Olivett Tropical – que guardo como relíquia para meu filho conhecer – e hoje estou na sala com um computador portátil, pequenino, até parece mágica comparando com poucas décadas passadas.
Preocupamos-nos com tudo que está ao nosso redor e, esquecemos de conhecer tudo o que está ao nosso redor. Nos dias atuais, temos informações que estão presentes em todo lugar, aliás, em excesso, e pouca formação. E no final das contas desejamos acompanhar a velocidade das mudanças, o que humanamente é impossível, ficar por dentro de tudo o que acontece é loucura intelectual, já que tudo é muito rápido. Temos a tendência de nos conectar com tudo e deixamos de lado o essencial: nós mesmos. Perdemo-nos naquilo que deveria ser uma ferramenta para nos tornarmos mais humanos e estreitar as distâncias e diferenças na sociedade.
O erro está na visão que temos de nós mesmos e da sociedade. Uma visão fragmentada da realidade, ainda tecnicista e pautada meramente no ter. É através desse paradigma que filtramos a realidade. Imagine uma empresa onde vigora o ter exclusivamente. Não existem colaboradores e sim funcionários e, os líderes são denominados chefes. Nesse conceito de empresa o trabalho é totalmente alienado. As equipes dão lugar a simplesmente grupos. A lei que vigora é a do mais forte, a ética cede vez ao individualismo. Tudo se torna provisório e imediatista.
Empresas fundamentadas no ter estão fadadas ao fracasso e a criar empregados descontentes, descompromissados e desligados de si mesmos e da visão, missão e valores que os levarão a realização, aliás, estes últimos, tudo indica que existem apenas no papel.
O século XXI inaugurou a Era do Ser. O que é necessário para sermos felizes?
Na Era do Ter o esquema seria assim:
Faço – Tenho – Sou
O que proponho é:
Sou – Faço – Tenho
É caminho inverso. O papel da filosofia segundo Merleau-Ponty é “re-aprender a ver o mundo”. Este é o nosso desafio! Está na hora de revermos nossos conceitos, reeducarmos para reler o nosso papel no mercado de trabalho.
Se analisarmos as publicações atuais na área de Gestão de Pessoas, perceberemos que tudo indica para uma Gestão pautada na Era do Ser. Toda mudança exige um começo. Precisamos dar o primeiro passo, alguns diriam. No entanto, o primeiro passo damos, a vontade de mudar possuímos, falta-nos o segundo passo. O segundo passo é que nos colocará no caminho acertado da determinação.
A partir do segundo passo, voltamos à pergunta inicial: quanto vale o seu conhecimento?
O conhecimento na Era do Ser terá sentido quando estiver agregado aos valores. Ressalto que esses valores em primeiro lugar não são os valores da empresa que você está, mas os seus valores e a sua ética. Entenda-se aqui valor como faculdades que possibilitam viver bem em sociedade; já a ética é a capacidade de refletirmos sobre nossas ações, como nos lembra Humberto Eco: “a ética surge quando o outro entra em cena”. Na entrada do Templo de Delfos estava inscrito: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates, o pai da Filosofia ocidental, compreendeu como ninguém esta inscrição e acrescentou: “Uma vida que não examinada, não vale a pena ser vivida”. Vivemos e não conhecemos a nós mesmos. Conhecemos todos e tudo, porém esquecemos de voltar o olhar para nossos atos. Imagine uma empresa onde seus colaboradores não sejam capazes de pensar na equipe, agem seguindo apenas seus princípios. Um dos princípios fundamentais da Era do Ser é a passagem do eu ao nós. O convite que faço é agirmos e pensarmos horizontalmente, a verticalização não conduz ao encontro do outro.
Quando entramos numa empresa o diploma sem dúvida possui seu valor, porém, a partir do instante que você faz parte da empresa ela exigirá algo mais de você: postura, valores, coletividade, ética, liderar suas emoções, capacidade de sonhar e, sobretudo, você deve estar em sintonia com a missão, visão e valores da mesma, ou se preferirem, adequação de perfil profissional.
Penso que não dá mais para imaginarmos o ser humano como um predador, lutando sozinho… olhando apenas para si mesmo, com uma certa dose de egoísmo, temos a necessidade de re-pensarmos nossas atitudes. Ninguém é feliz sozinho… sucesso não ocorre por acaso, sempre trazemos alguém conosco. É como a carreira profissional, crescemos quando levamos em consideração o outro. Está na hora de re-educarmos nossas atitudes… educar para a sensibilidade. Uma educação que nos mostre que além de nós existe o outro com quem aprendemos a ser o que somos!
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