quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


“Que lindo par!
Ele, belo com essa beleza que distingue o homem; ela, bela com essa beleza que Deus dá só à mulher! Ai! Um sorriso que se desprendesse dos lábios formosos daquela virgem mataria de amores um homem! Um olhar meigo e terno que brilhasse por entre aquelas pestanas aveludadas venceria o mundo!
Naquele tempo da faculdade, Elisabete dançava impreterivelmente todos os domingos. Das sete à meia-noite. Vestido rosa, rabo-de-cavalo, sapato baixinho, ainda. Batom e algumas gotas de perfume francês, roubadas do frasco da mãe.
Naquele tempo, toda noite tinha lua. Com ou sem estrelas. Toda noite era azul e linda. Aos domingos.
O baile começava cedo e ela fingia não notar os olhares insistentes dos rapazes. Dançava displicente com uns e outros. Ar de enfado. Até que, depois do intervalo, ele aparecia. Às dez. Sempre. Como um deus sob a luz negra do salão.
Dançavam até o último segundo, última música. Sempre. Depois, beijo rápido à saída. Quase casto, não fora o calor que lhes subia coxa acima.
A cada domingo, tudo se repetia. Então, um dia, ele não veio. Todas as noites tornaram-se escuras. Sem lua. Para sempre. Nunca mais dançou.
Às vezes, uma lágrima humedecia-lhe o olhar quando ouvia a canção antiga.
Tempos depois, um convívio de final de ano lectivo de alunos e professores. Sorriu ao ouvir a mesma música. Mal acreditou, quando ele a convidou para dançar. Às dez. Como antes. Surgido do nada. Com a lua que, súbito, inundou a noite. Como se nunca houvesse o tempo passado.
Apenas mudou o beijo à saída. O gosto de vida vivida que, para sempre, lhe marcou a boca. Ele tinha casado. O filho era aluno na mesma escola. Nunca mais lhe conheceram namorados a sério após a faculdade. Obviamente nunca casou.”


In: "Asas de borboleta" (Não editado)

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