segunda-feira, 25 de abril de 2011

De repente você olha para trás e vê o grande quebra cabeças no qual você nunca se encaixou. Olha toda a sua vida e vê que não saiu do lugar. Do que eu posso me orgulhar? Ou do que os meus pais podem se orgulhar? De ter uma filha de 20 anos que ainda mora com eles, faz uma faculdade que não gosta, não corre atrás de emprego e vive sonhando com as coisas, mas não faz nada para que elas se realizem.
Acho que eu estou um pouco fraca, meio sensível, muito confusa. Eu penso em como eu perdi tempo esperando as coisas acontecerem. Eu nunca corri atrás. Quando fui para Florianópolis, eu não fui para prestar vestibular algum, eu fui para me encontrar, saber quem eu sou, quem eu era, quem eu devia ser. Eu precisava de um tempo para mim, sem ninguém, pra saber quem realmente estava comigo. Olhar o mar em silêncio me fez chegar o mais perto de Deus que eu posso descrever. Apenas pensar em toda a minha vida, enquanto as grandes ondas quebravam furiosas. Poder sentir-me livre e saber que por mais que você tente ser boa, você sempre será ruim para algumas pessoas. Que por mais que seja você mesma e se mostre interessada, acharão que você é fútil.
Por mais livre que eu estivesse ali, eu me senti presa. E percebi o quanto a minha família é importante pra mim. Fico tão sensível longe da minha mãe. Como se fossemos ligadas por outras vidas. Apesar das brigas, das poucas conversas, dos muitos sermões, sei que ela só quer o meu bem. É que às vezes sinto falta do colo que ela me dava, dos dias que passava me ensinando as coisas, das flores que pegava para ela todos os dias. Sinto falta do carinho que depois de grande não recebi mais. Não que eu tenha vergonha de pedir, mas todos estão sempre com pressa quando peço um abraço.
Então eu recuo e me mantenho pequena dentro de mim mesma. Ás vezes julgam minhas lagrimas, mas nunca entenderão como eu me senti por anos, e como eu me sinto muitas vezes ainda. Sentia-me sozinha mesmo rodeada de todos, sentia que faltava um pedaço, não sabia o que era felicidade, não sabia o que era respirar sem sentir algo sufocando minha garganta, não sabia por que fugia tanto da realidade, talvez fosse para sentir-me viva. Queria sangrar só para saber que ainda estava aqui. Queria sair, beber e ficar alegre pra poder sorrir sem ter que forçar os lábios para que eles o fizessem. Queria fugir da realidade porque ela me proporcionava apenas lágrimas. Sempre me senti estranha desde pequena, nunca entendi por que nada se encaixava comigo, nunca entendi por que sentia um buraco no meu peito que atravessava a alma e me tornava oca. Eu nunca entendi. Hoje eu ainda não entendo, mas acostumei-me a não ser mais assim.
Eu quis me dar uma chance, eu quis olhar alguém nos olhos e dizer eu te amo sinceramente e honestamente. Eu quis entender quem eu era. E hoje eu tenho plena certeza de quem sou. Eu sou apenas o que quero, sem ter que pedir permissão, sem ter que agradar as pessoas para que elas me aceitem. Eu sou apenas uma pequena parte do amor que tenho no peito, do mau humor que tenho todas as manhãs ao acordar, da esperança que tenho por dias melhores, dos sonhos que guardo comigo mesmo sabendo que posso não realizá-los um dia, da bondade que me deixa cega às vezes, da inocência que não me deixa enxergar as más intenções, da personalidade forte que me faz escolher o caminho mais complicado, porém com mais recompensas finais. Eu sou a cura para a dor que sentia, o sorriso para as lágrimas que derrubei por tantos anos, o abraço para o desespero que tenho às vezes, o conselho para as burrices que penso em fazer em muitas situações, a fé para o temor a Deus, a chance para os arrependimentos e a coragem para os desafios.
Eu sou a falta e o complemento, o amor e a ira, a inocência e a malícia, a compreensão e o julgamento, o ápice e o fundo do poço, eu sou o tudo e o nada.
A mesma pessoa, desenhando o que gostaria de ser ou apenas retratando o que realmente é.

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