sábado, 16 de março de 2013

O homem romântico




O homem romântico
O homem romântico, dizem, é como o tangará: ser raro em extinção, cujo nome poucos reconhecem. O tangará é uma ave que raramente pousa no chão, passando a maior parte do tempo em árvores. O homem romântico também é um nefelibata, habitante das nuvens do pensamento, procurando sempre formas diferentes de cortejar sua amada. Sim, robertocarlianamente ele ainda chama de querida a sua amada.
O homem romântico sabe que não precisa inventar muito para demonstrar o seu amor verdadeiro. Por isso, o homem romântico recorre à dúzia de rosas, caixas de chocolate e cartões com mensagens lindas nos dias especiais. Ele nunca esquece um dia especial. Para o homem romântico, a propósito, qualquer dia pode virar um dia especial. Ele sabe que isso só depende dele. Ele, como ninguém, vive o tal carpe diem.      
Um homem romântico se importa com os detalhes. Nos detalhes que moram as diferenças. Um homem romântico abre a porta do carro, da sala, do coração. O homem romântico cede seu lugar. O homem romântico escreve bilhetinhos desejando um bom-dia ou boa sorte na entrevista para aquele emprego novo e o coloca escondido na bolsa da amada. O homem romântico é um Anchieta de espelho de banheiro, escrevendo mensagens poéticas que acordam o dia da mulher com palavras especiais. O homem romântico, se preciso, tira sua camisa para abrigar a mulher na chuva torrencial sem medo de que ela pense que ele quer compensar alguma desvantagem com essa atitude.
O homem romântico sabe da praticidade de uma geladeira, mas prefere como presente um jantar a dois naquele mesmo restaurante onde a história registrou momentos da concepção do romance. Naquela mesma mesa. Para repetir os mesmos gestos. De preferência sob a mesma trilha sonora. Um homem romântico constrói a dedo a trilha sonora. Escolhe as músicas, como escolhe as formas de agradar.
O homem romântico vive em qualquer lugar como se fosse sua casa. Ser feliz e fazer os outros felizes é sua guerra particular. O homem romântico é um sonhador, não um deslumbrado. Age por paixão, mas a paixão do tipo que liberta e não a do tipo que escraviza. Cortês sem excesso, para o homem romântico ninguém pode tratar uma mulher melhor do que ele. Fraterno sem invasão, para o homem romântico a sua é a mais confortante das companhias possíveis. Pelo menos, não mede esforços para que seja. O homem romântico provoca sorrisos quando chega e vazios quando vai. Deixa no ar o desejo de sua presença. Faz com que anseiem pelo seu perfume.
O homem romântico gosta de mulher. Não só no sentido sexual do termo. Também, claro. Mas o homem romântico sabe que gostar de mulher é prestar atenção nela, é ter a sensibilidade para cativá-la a cada momento e compreender sua peculiaridade. É ter paciência para conviver com sua necessidade de falar ou para sobreviver quando isso estiver além de sua limitação masculina. É respeitar seu tempo. É ouvi-la contar como foi seu dia, sorvendo cada palavra e lastimando genuinamente não ter estado presente. O que faz um homem romântico é a vontade de entender a mulher. Porque a mulher é um bicho complicado e difícil de entender. Mas essa curiosidade é constitutiva do homem romântico e ele tem essa curiosidade. Mas o homem romântico, registre-se, pode virar um ogro se sentir que outro homem corteja a sua mulher.
O homem romântico, apesar de pleno, é um incompleto. Sabe ele que se completa em sua mulher. Quando a beija, quando a abraça, quando suam juntos, quando a penetra. Todavia, o homem romântico sabe que a penetração do corpo nada vale sem a prévia penetração da alma. E é fato: o fazer amor do homem romântico começa bem antes do encontro dos corpos, nos sorrisos, palavras, silêncios que antecederam, cheios de sentidos compartilhados. O homem romântico deriva seu prazer do prazer que faz a mulher sentir. A medida de seu prazer é a realização do dela. O homem romântico vive a saga de encher sua mulher de beijos de todos os tipos: carinhosos, fogosos, apaixonados, molhados, permitidos, roubados, fortes e delicados. Um festival deles. Em todos os lugares. Várias vezes. Por breves e longos tempos. Na aparente e inocente leitura de fragilidade que acompanha o homem romântico se esconde um amante único, inesquecível. Como ninguém ama sozinho, o homem romântico sabe que sem o feminino o masculino não existe. Ele sabe-se um Yang frágil, completamente dependente do Yin fontal.
O homem romântico adora surpreender sua mulher. Inventar um programa especial sem hora marcada. Enviar uma pizza em que esteja escrito “I Love You” com catupiri. Ligar às seis da manhã para desejar bom-dia, mandar uma mensagem só para dizer que sente sua falta. Fazer aquele prato que ela gosta tanto. Ser chef de sua degustação. O homem romântico consegue num toque de pés sob a mesa dizer o que quer e ser plenamente entendido.
O homem romântico olha sua mulher dormindo como se fosse a mais bela escultura de Michelangelo. Para ele é. Seu olhar pousa em seu corpo em repouso com a maciez de seus pensamentos. Analisa a boca, acompanha a respiração. Admira os cabelos emaranhados na beleza selvagem do momento que segue a ternura. O homem romântico acorda sua mulher com beijos em seus olhos, pescoço e uma mordidinha muito de leve na ponta do seu nariz. O homem romântico não sai sem um carinho de despedida.
O homem romântico é um romântico gratuito. Faz tudo isso sem cobrar nada, a não ser a eterna presença do olhar terno que recebe ao ser romântico. Ele é movido à ternura.  Ele é movido a carinho. Ele é movido a amor. O homem romântico é um total flex afetivo.
Um homem romântico, poucos sabem, está em cada homem. Nuns, adormecido e amordaçado, esperando o seu resgate por um amor verdadeiro, daqueles que nos deixam bobos e leves. Noutros, já liberto e tresloucado, fazendo a hora de seu romantismo, fazendo de sua mulher a mulher que mais deseja um homem. Aquele homem que a encanta, que a seduz, que lhe dá prazer, que a enreda em seu olhar, que a prende no seu infalível visgo, que a entrelaça na sua sombra e que a atrai feito imã, obliterando sua razão porque chaveia nela a emoção mais pura, que vem sabe-se lá de onde e que ela sequer sabia que tinha dentro de si. O homem romântico é um irresistível que não resiste a uma paixão verdadeira, paixão que, num círculo virtuoso, não resiste a ele igualmente. Com o homem romântico, simplesmente acontece. Que me perdoem os trogloditas, mas ser romântico é fundamental. Homem que é homem chora de e por amor. Porque é verdadeiro, porque é macho. Porque é romântico. Quando lhe dão asas, o homem romântico voa alto. Que nem o tangará. Que nem o tangará.
 S.
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Sérgio Augusto Freire de Souza

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