Esta parte
segue como reconhecimento e homenagem a um dos maiores mestres na arte
barroca, ANTÔNIO
FRANCISCO LISBOA, nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais, em 29 de agosto de
1730. Era filho de Manuel Francisco da Costa Lisboa (arquiteto português)
e de uma humilde escrava que atendia pelo nome de Izabel – esta fora
liberta por ocasião do batizado da criança. Teve dois outros irmãos da
mesma mãe e um irmão oriundo do legítimo casamento do seu pai – o
Padre Félix Antônio Lisboa. O Aleijadinho teve um filho, aos quarenta e
sete anos de idade, a quem deu o nome do pai – Manuel Francisco.
Falar de Antônio Francisco Lisboa é falar do arquiteto
das estátuas de Pedra Sabão e dos detalhes enobrecedores das Igrejas de
Ouro Preto, Mariana, Sabará, São João Del Rey e Bom Jesus de
Matosinhos. Essa é a idéia que se forma em minha mente e que eu creio
que igualmente se forma nas mentes dos irmãos no momento poético do
enlace maravilhoso entre homem e arte, quando a perfeição da arte revela
o sentido de uma vida e reflete a expressão de uma obra. É estranha e
sensível a expressão que se apodera do espírito ao contemplar aquelas
obras a quem a pedra sabão, a madeira, o gesso e por vezes, as palavras
destinaram à imortalidade, O ALEIJADINHO morreu a 18 de novembro de 1814,
aos 76 anos de idade, mas continua vivo em suas obras e se perpetua na
eternidade todas as vezes que pronunciamos o seu nome e esse instrumento
de perpetuação nada mais faz do que traduzir a unidade que se reflete na
vida que as suas obras representam.
Neste dia de hoje, eu, entretanto, não pretendo falar da
arte ou das obras do ALEIJADINHO. Não pretendo me aprofundar em sua
biografia e muito menos na indagação se ele foi ou não maçom. Isto o
farei em uma outra oportunidade. Hoje pretendo tecer algumas breves
considerações a propósito do mal que o acometeu – a sua doença –
doença que o tirou do anonimato e o colocou nos degraus da arte suprema
ao lado dos grandes gênios da escultura universal. Pretendo, ainda,
mostrar aos irmãos que a figura aparentemente pavorosa do gênio da
escultura, não era instrumento de repulsa e que o artista apesar da sua
feiúra provocada pela doença, era muito querido e respeitado em sua
comunidade.
ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA era um mulato escuro, corpo cheio
e mal formado, tinha testa larga, orelhas grandes, pescoço curto, cabelos
pretos anelados e abundantes, nariz um tanto afilado, barba inteira e
cerrada, lábios grossos e era de estatura baixa. Assim, o ALEIJADINHO foi
retratado por diversos pintores. Diz-se que sabia ler e escrever, mas não
consta que tivesse freqüentado alguma outra aula além das primeiras
letras, embora fique evidenciado que sabia o latim.
Em sua formação e no seu atavismo mesclaram-se as
qualidades tradicionais do povo lusitano e brasileiro: parcimônia, mansidão,
resistência, tenacidade frente ao duro labor que a vida e a doença lhe
impôs – fato que serve de exemplo e amparo quando nos acovardamos
diante das dificuldades que por vezes nos tolhem os passos e, quando nos
intimidamos diante das nuvens que, não raro, nos sombreiam os horizontes.
A sua vida, em que pese à fama atual, transcorreu no mais
perfeito e completo anonimato, tal é a pobreza de informações. Exceto
alguns recibos da contratação dos trabalhos realizados e do atestado de
óbito, que relata que morreu na rua do Areião, não há outras informações
a propósito da causa mortis, da sua doença e da sua vida. Seu primeiro
biógrafo – o professor RODRIGO JOSÉ FERREIRA BRETAS, nascera no mesmo
ano em que morrera o Aleijadinho (1814) e "Os Traços Biográficos
Relativos ao Finado Antônio Francisco Lisboa, distinto escultor, mais
conhecido pelo apelido de Aleijadinho" só veio a lume 44 anos após
o falecimento do artista.
A DOENÇA
Brêtas ao relatar a doença do ALEIJADINHO, diz que
"... as pálpebras inflamaram-se e permanecendo neste estado,
oferecia à vista sua parte interior, perdeu quase todos os dentes e a
boca entortou-se, como sucede freqüentemente ao estuporado; o queixo e o
lábio inferior abateram-se um pouco, o que lhe emprestou uma expressão
sinistra e de ferocidade, que chegava mesmo a assustar a quem o encarasse
inopinadamente. Perdeu todos os dedos dos pés, o que resultou não poder
andar, senão de joelhos; os dedos das mãos atrofiaram-se e curvaram-se,
chegando alguns a cair, restando nas mãos os dedos polegares e os índices".
A sua nora, Joana Lopes, disse que ele tinha "enormes tumores pelo
corpo e uma lesão cortocontusa na pele do abdome".
A propósito da sua aparência, tenho um relato que vou
retratar ligeiramente: "Conta-se que, tendo comprado um preto boçal
de nome Januário – atentara este contra a própria vida, servindo-se de
uma navalha, tendo dito antes, que assim o fazia para não se ver obrigado
a servir a um senhor tão feio". Salvou-se e mais tarde tornou-se um
bom e dedicado escravo. Chamo a atenção para o fato de ter sido o
escravo Januário o encarregado de puxar o burro que conduzia o
ALEIJADINHO e nele o colocava e tirava.
A propósito da doença – os autores mais prudentes e com
mais consciência, não emitem opinião. Outros admitem hipóteses –
todas levantados por médicos e leigos. Devo dizer que não há nenhum
registro à época, da sua doença. Não há registro que fora tratado,
nem receituário médico ou farmacêutico que ateste qualquer coisa.
Segundo, portanto, as opiniões a seguir transcritas foram emitidas por médicos.
·
LACLETE (1925), em artigo para a Edição Especial do Jornal de Minas
Gerais, afirmou ser LEPRA NERVOSA a doença do Aleijadinho;
·
JOSÉ MARIANO FILHO (1940), concluiu ser o MAL DE HANSEN ou Mal de São
Lázaro;
·
MAURANO (1941), disse tratar-se de um caso raro de LEPRA;
·
PASSIG (1945), disse tratar-se de ICTUS CEREBRAL ocasionado pela SÍFILIS;
·
ADAD (1945), concluiu ser LEPRA, mas acha que o Aleijadinho sofria também
de HIPERTIREOÍDISMO;
·
EUGÊNIO MAURO (1950), disse ter sido LEPRA a doença do Aleijadinho.
Outro médico, como AGRIPA DE VASCONCELOS, falou que a doença
do Aleijadinho teria sido Seringomielia. FERNANDO LEMOS, disse ser
Framboesia Tropical (Bouba). FERNANDO JORGE (Este não era médico) em seu
livro – "O Aleijadinho, sua vida, sua obra, seu gênio" –
afirmou que a doença do Aleijadinho era "Fácies Leonina dos Morféticos".
FERREIRA BRETAS concluiu como sendo o ALEIJADINHO um
"Estuporado". Falou-se muito também em "Zamparina".
O Professor ALÍPIO CORRÊA NETTO em sua obra "A DOENÇA
DE ALEIJADINHO", descreve, compara e afirma ter sido o ALEIJADINHO
acometido de uma "TROMBOANGEÍTE OBLITERANTE", uma gangrena das
extremidades das partes afetadas a que se segue a inflamação e à detenção
do sangue venoso nas extremidades dos membros, isto é, a falta de sangue
arterial ou a falta de circulação sangüínea. Seguem-se, nestes casos,
as manifestações clínicas da gangrena: dor típica (local), moleza,
insensibilidade, diminuição do calor e a parte afetada se faz lívida,
seguindo-se as esfoladuras, ficando a parte afetada convertida em uma
crosta negra e fétida. Os membros, se não retirados (amputados) caem.
Trata-se de uma doença crônica incluída no campo da
ARTERIOSCLEROSE – é uma doença que dura decênios e as dores
provocadas pela doença pode ser periódicas ou contínuas. A moléstia
encontra sua razão na obstrução dos troncos arteriais e venosos por
espessamento de suas camadas internas e coagulação do sangue no seu
interior, entupindo-os. Outras enfermidades que também leva à gangrena
das extremidades e conseqüentes mutilações são a ENDARTERITE
OBLITERANTE e esta, igualmente, vinculada à ARTERIOSCLEROSE. Esse tipo de
mal pode ocorrer em nossos dias, com mais facilidade nos portadores de
diabetes, em conseqüências das alterações verificadas neste tipo de
doença.
O Professor e Médico – ALÍPIO CORRÊA NETTO, concluiu,
portanto, que a doença do ALEIJADINHO foi TROMBOANGEÍTE OBLITERANTE e
traçou um quadro comparando os sintomas e sinais da moléstia com a
discrição encontrada no trabalho de RODRIGO BRÊTAS.
Os primeiros sintomas da doença apareceram por volta de
1776/1777, quando ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA tinha 39 anos de idade –
nesta oportunidade – já era conhecido nos círculos artísticos da região
das minas, mas a partir desta data, tornara-se arredio, irritadiço e
agressivo, porém nunca parou de trabalhar – só que o fazia à noite e
com o auxílio dos seus ajudantes – todos escravos ou ex-escravos. MAURÍCIO
(escravo) que conhecia a arte do entalhe o acompanhava por toda à parte,
era ele quem adaptava os ferros (formão) e o macete (malho) às mãos
imperfeitas do ALEIJADINHO. Além de Maurício, tinha outros escravos:
JANUÁRIO e AGOSTINHO, que os auxiliavam em seus trabalhos.
Sabe-se que ganhou muito dinheiro, entretanto, não reuniu
fortuna – não era um homem rico – apesar das inúmeras obras para que
fora contratado e dos altos valores pagos pelos trabalhos. Dele diz-se que
era descuidado na guarda do seu dinheiro e que de contínuo lhe roubavam.
Parte do que ganhava dividia como Maurício e gostava de dar esmolas aos
pobres.
ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA, apesar de tudo, continuou
recebendo encomendas por mais 37 anos após o aparecimento dos primeiros
sinais da doença, o que demonstra que era estimado pelos sacerdotes de
Vila Rica, Mariana e Congonhas e, ao que nos parece, a sua enfermidade fez
a sua fama.
BRÊTAS diz que "... o artista não era repudiado, ao
contrário, era procurado. Ele próprio é que se esquivava. A consciência
que tinha da desagradável impressão que causava a sua fisionomia o
tornava intolerante e mesmo iroso para com os que lhe observavam de propósito,
entretanto, ele era alegre e jovial com as pessoas da sua
intimidade". Há relatos que costumava ir as missas em sua cadeira,
conduzido por dois escravos. Isto quer dizer que freqüentava lugares e
trabalhava, como se sabe, dentro e fora das Igrejas. Portanto, ANTÔNIO
FRANCISCO LISBOA era uma figura querida em Vila Rica e adjacências.
CONCLUSÃO
ANTÔNIO FRANCISCO LISBOA – O ALEIJADINHO - foi um
exemplo constante de dedicação ao trabalho sério e construtivo, autor
de obras que constitui motivo de orgulho para Minas Gerais, para o Brasil
e para a nossa Loja. Entretanto, a maior das lições que o ALEIJADINHO
nos legou, foi sem dúvida, a de ter perseverado nos seus trabalhos, mesmo
depois de atacado pela enfermidade, mesmo aleijado, mesmo como deficiente
físic5, mesmo quando tinha que ser conduzido para o local de trabalho, de
ter, para trabalhar, que adaptar os ferros e o macete às mãos
imperfeitas, e lá estava ele, esculpindo paredes, talhando a pedra,
moldando a madeira e demonstrando coragem e persistência, quando, a
exemplo do que se vê hoje e com toda certeza se via à época, seria
muito mais fácil desistir e viver à custa da caridade pública.
Esta
perseverança no trabalho, apesar de suas deficiências físicas, essa
tenacidade e quase abstinação em realizar seus trabalhos, lutando com
tamanhas dificuldades, foi, indubitavelmente, a maior das lições que nos
legou o ALEIJADINHO e que nós temos como obrigação ensinar às gerações
de hoje e do amanhã.
Capelas dos passos
Passo da Ceia
Situada na parte inferior da
rampa, é a maior das capelas e a mais antiga do conjunto. Representa a
Santa Ceia de Jesus com seus apóstolos e dois servos, mais
especificamente o momento em que Jesus diz "Em verdade vos digo, um
de vós me há de entregar" e os apóstolos se mostram transtornados.
Todas as peças são em tamanho próximo ao natural, a maioria constituída
de um único bloco com exceção das mãos que são móveis. As únicas
esculturas completas são os dois servos e os quatro primeiros apóstolos
mais visíveis. As restantes de meio corpo repousam em suportes por detrás
da mesa redonda.
Passo do Horto
Ao lado esquerdo da rampa em
pequena distância da Ceia, encontra-se a capela que mostra a agonia de
Jesus orando no Jardim das Oliveiras, marco inicial da paixão. A figura
de um anjo, pendurado no alto da capela, traz na sua mão direita um cálice
representando o fel que deverá ser bebido: "Pai, se é do teu
agrado, afasta de mim este cálice". O anjo trazia em sua mão
esquerda uma cruz, retirada em 1957 por motivo de segurança da estátua.
As imagens de excelente execução e perfeito acabamento formam um
conjunto harmônico, composto pela imagem do anjo, Jesus sentado em oração,
e dos apóstolos Pedro, Tiago e João adormecidos.
Passo da Flagelação e Coroação de
Espinhos
Encontra-se
do lado direito da capela da Ceia. Oito personagens compõem este grupo:
Jesus, Pedro, Malco, Judas e quatro soldados. Num gesto instintivo de defesa
do mestre, São Pedro decepa a orelha de Malco, um dos guardas. Cristo
acalma Pedro e avança em direção à vítima para curá-la. No exato
momento desta cena, Cristo está com a orelha de Malco na mão. O
conjunto de imagens é entre todos o mais homogêneo. As imagens chegam a
medir, mais de dois metros de altura.
Passo da Subida do Calvário
Passo da Crucificação
Igreja Basílica
Sala dos Milagres
Igreja Matriz
Igreja do Rosário
Basílica e os Profetas
Romaria
Diagrama
da Basílica
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