Reflexão: Pais devem ensinar prazer da convivência
A qualidade do tempo que os pais dedicam ao convívio com os filhos é um
assunto bastante importante, uma vez que os inúmeros afazeres que têm
tornam esse tempo bastante curto. E, pela sua importância, é um tema
recorrente nas mensagens que costumo receber de pais e mães. Eles
costumam pedir sugestões de atividades que possam reuni-los com os
filhos em tomo de um mesmo interesse. Uma leitora até contou que, como
os filhos têm idades muito diferentes, estava com dificuldade para
conciliar o tempo restrito que possui em casa para dar atenção a eles e
ao marido.
Bem, a primeira coisa sobre a qual é importante refletir é justamente
essa tendência de muitos pais de sair em busca de algo diferente ou
interessante para fazer quando estão com os filhos. Aí é um tal de
procurar programas, atividades culturais e artísticas, viagens, que isso
acaba roubando boa parte do tempo que poderia ser passado com os
filhos.
Não é preciso tanto empenho para criar motivações para que os filhos se
interessem em desfrutar a companhia dos pais. Basta - o que não é pouco
- estabelecer com eles, desde cedo, o hábito de fazer coisas simples
juntos, de ter boas conversas sobre qualquer assunto, de expressar o
prazer de estar lado a lado, mesmo que num bom embate de ideias, mesmo
que num conflito. Companheirismo familiar, esse é o ponto. E isso se
aprende.
Para que os pais possam ensinar aos filhos o gosto pela convivência
familiar, é preciso que isso faça parte da vida deles, que gostem de
estar com os filhos. E essa é uma descoberta que se faz pouco a pouco, à
medida que o filho cresce. Nos primeiros anos, sentar no chão com o
filho, engatinhar com ele, jogar bola são maneiras de mostrar o prazer
de conviver; alguns anos depois, ler gibis ou livros de história juntos,
desenhar ou pintar, tomar sorvete à tarde são outros modos de mostrar
ao filho que é gostoso estar junto com ele.
Quando o filho passa a frequentar a escola, que lhe dá acesso às letras
e ao conhecimento, acompanhar a vida escolar, sem, entretanto, invadir a
privacidade dele, é outro ótimo jeito de iniciar um assunto. É assim,
com a experiência, que o filho percebe que os pais gostam de ouvir seus
comentários, gostam de conviver com ele nas situações comuns de vida. É
assim que ele sente que faz parte dessa dinâmica, que tem um papel bem
definido no grupo familiar.
E há situações mais presente e comum na vida de todas as famílias que
as refeições? Pelo menos uma ou duas vezes por semana, a família tem a
chance de se reunir para planejar e preparar uma refeição, se quiser.
Hoje, mesmo em cidades menores, o estilo de vida não permite mais que
toda a família esteja presente em, pelo menos, uma refeição diária em
conjunto, sem pressa nem atropelo. Mas, se os pais querem dedicar parte
de seu tempo livre à construção de um relacionamento familiar
consistente e próximo, eles podem usar qualquer recurso para isso, até a
refeição.
Criança adora cozinha. Tanto é verdade que logo os pais percebem que
precisam proteger os filhos dos riscos que a cozinha apresenta: facas,
fogão, beiradas, pequenos grãos etc. precisam ficar fora de alcance.
Mas, se acompanhada bem de perto, a criança pode colaborar na realização
de uma refeição.
A alegria e o prazer que o filho experimenta nessa atividade feita em
conjunto não reside tanto na execução de uma tarefa doméstica, mas na
percepção de que ele pode fazer algo que trará benefício e prazer a
todos e de que sua presença não atrapalha, ao contrário, é desejada por
seus pais.
Uma vez me referi à família como uma panelinha especial, da qual seus
membros gostam de fazer parte. Para crianças e jovens, talvez a sensação
de pertencer a um grupo nunca tenha sido tão importante quanto é hoje,
nessa loucura em que se tornou a vida moderna.
ROSEL SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)
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