sexta-feira, 11 de abril de 2014

Reflexão: Pais devem ensinar prazer da convivência

Reflexão: Pais devem ensinar prazer da convivência

A qualidade do tempo que os pais dedicam ao convívio com os filhos é um assunto bastante importante, uma vez que os inúmeros afazeres que têm tornam esse tempo bastante curto. E, pela sua importância, é um tema recorrente nas mensagens que costumo receber de pais e mães. Eles costumam pedir sugestões de atividades que possam reuni-los com os filhos em tomo de um mesmo interesse. Uma leitora até contou que, como os filhos têm idades muito diferentes, estava com dificuldade para conciliar o tempo restrito que possui em casa para dar atenção a eles e ao marido.
 
Bem, a primeira coisa sobre a qual é importante refletir é justamente essa tendência de muitos pais de sair em busca de algo diferente ou interessante para fazer quando estão com os filhos. Aí é um tal de procurar programas, atividades culturais e artísticas, viagens, que isso acaba roubando boa parte do tempo que poderia ser passado com os filhos.
 
Não é preciso tanto empenho para criar motivações para que os filhos se interessem em desfrutar a companhia dos pais. Basta - o que não é pouco - estabelecer com eles, desde cedo, o hábito de fazer coisas simples juntos, de ter boas conversas sobre qualquer assunto, de expressar o prazer de estar lado a lado, mesmo que num bom embate de ideias, mesmo que num conflito. Companheirismo familiar, esse é o ponto. E isso se aprende.
 
Para que os pais possam ensinar aos filhos o gosto pela convivência familiar, é preciso que isso faça parte da vida deles, que gostem de estar com os filhos. E essa é uma descoberta que se faz pouco a pouco, à medida que o filho cresce. Nos primeiros anos, sentar no chão com o filho, engatinhar com ele, jogar bola são maneiras de mostrar o prazer de conviver; alguns anos depois, ler gibis ou livros de história juntos, desenhar ou pintar, tomar sorvete à tarde são outros modos de mostrar ao filho que é gostoso estar junto com ele.
 
Quando o filho passa a frequentar a escola, que lhe dá acesso às letras e ao conhecimento, acompanhar a vida escolar, sem, entretanto, invadir a privacidade dele, é outro ótimo jeito de iniciar um assunto. É assim, com a experiência, que o filho percebe que os pais gostam de ouvir seus comentários, gostam de conviver com ele nas situações comuns de vida. É assim que ele sente que faz parte dessa dinâmica, que tem um papel bem definido no grupo familiar.
 
E há situações mais presente e comum na vida de todas as famílias que as refeições? Pelo menos uma ou duas vezes por semana, a família tem a chance de se reunir para planejar e preparar uma refeição, se quiser. Hoje, mesmo em cidades menores, o estilo de vida não permite mais que toda a família esteja presente em, pelo menos, uma refeição diária em conjunto, sem pressa nem atropelo. Mas, se os pais querem dedicar parte de seu tempo livre à construção de um relacionamento familiar consistente e próximo, eles podem usar qualquer recurso para isso, até a refeição.
 
Criança adora cozinha. Tanto é verdade que logo os pais percebem que precisam proteger os filhos dos riscos que a cozinha apresenta: facas, fogão, beiradas, pequenos grãos etc. precisam ficar fora de alcance. Mas, se acompanhada bem de perto, a criança pode colaborar na realização de uma refeição.
 
A alegria e o prazer que o filho experimenta nessa atividade feita em conjunto não reside tanto na execução de uma tarefa doméstica, mas na percepção de que ele pode fazer algo que trará benefício e prazer a todos e de que sua presença não atrapalha, ao contrário, é desejada por seus pais.
 
Uma vez me referi à família como uma panelinha especial, da qual seus membros gostam de fazer parte. Para crianças e jovens, talvez a sensação de pertencer a um grupo nunca tenha sido tão importante quanto é hoje, nessa loucura em que se tornou a vida moderna.
 
ROSEL SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha)

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